Pular para o conteúdo principal

Pílulas: Katherine Funke


Katherine Funke é uma jornalista catarinense, radicada na Bahia, repórter da revista Muito, que curte escrever e fazer música ao seu modo. “Caseiro”, como diz. Possui os blogs Notas Mínimas e Histórias da Katherine; este, de onde foram pilulados os versos a seguir. Tem ainda o twitter Micronotas, pra quem quiser persegui-la. Boa leitura!

"...

a bola branca perfeita
entra pelas pupilas
meus olhos, imensos,
enxergam as formigas
que caminham no jardim
carregando pedaços pequenos
das flores que saíram de mim

------

Grite mais alto!
Se ninguém te ouve

Levante a voz
Porque pensamentos
Invisíveis nada fazem
A não ser atormentar
As cabeças onde nascem

------

aceito o banzo que
a escuridão traz,
só para ter, quiçá,
a paz fugaz de
um sonho bom

------

Já é tão cedo e já não tenho nem para respirar!
Relógio sem razão, este das rotinas!

------

Um poeta nunca está longe de si mesmo.

Ele carrega um pouco da própria poesia
em cada passo palavra pedra escalada
até mesmo quando suspende o tempo
para tentar entender se está feliz

------

eu, passarinho,
eu, leoa,
eu, árvore
e tua inteira vida
pela frente

------

Canta, sino dos ventos
Que me ensinas?
As cores do silêncio;
o valor do encontro lento,
do atrito rápido e da leveza infinita,
suspenso no andamento
sem maestro das horas

------

era de noite, tarde,
pensei comigo, uh,

acho que uma estrela
caiu do céu, e arde

------

então, deitei na rede
e senti o espírito
abandonar a matéria

..."

Íntegra do poema Sem Título (ou Pequeno Poema), e trechos dos poemas Nobody Hears When You Call?, Poesia Noturna, Bem Cedo, Você, Meu Amigo, Eu, Passarinho, Sino dos Ventos, Eu vi um Vaga-Lume e Para Helena Ignez, de Katherine Funke, publicados no blog Histórias da Katherine (2009). www.historiasdakatherine.wordpress.com

.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Dez passagens de Clarice Lispector nas cartas dos anos 1950 (parte 1)

Clarice Lispector (foto daqui ) “O outono aqui está muito bonito e o frio já está chegando. Parei uns tempos de trabalhar no livro [‘A maçã no escuro’] mas um dia desses recomeçarei. Tenho a impressão penosa de que me repito em cada livro com a obstinação de quem bate na mesma porta que não quer se abrir. Aliás minha impressão é mais geral ainda: tenho a impressão de que falo muito e que digo sempre as mesmas coisas, com o que eu devo chatear muito os ouvintes que por gentileza e carinho aguentam...” “Alô Fernando [Sabino], estou escrevendo pra você mas também não tenho nada o que dizer. Acho que é assim que pouco a pouco os velhos honestos terminam por não dizer nada. Mas o engraçado é que não tendo absolutamente nada o que dizer, dá uma vontade enorme de dizer. O quê? (...) E assim é que, por não ter absolutamente nada o que dizer, até livro já escrevi, e você também. Até que a dignidade do silêncio venha, o que é frase muito bonitinha e me emociona civicamente.”  “(...) O dinheiro s

Oito passagens de Conceição Evaristo no livro de contos Olhos d'água

Conceição Evaristo (Foto: Mariana Evaristo) "Tentando se equilibrar sobre a dor e o susto, Salinda contemplou-se no espelho. Sabia que ali encontraria a sua igual, bastava o gesto contemplativo de si mesma. E no lugar da sua face, viu a da outra. Do outro lado, como se verdade fosse, o nítido rosto da amiga surgiu para afirmar a força de um amor entre duas iguais. Mulheres, ambas se pareciam. Altas, negras e com dezenas de dreads a lhes enfeitar a cabeça. Ambas aves fêmeas, ousadas mergulhadoras na própria profundeza. E a cada vez que uma mergulhava na outra, o suave encontro de suas fendas-mulheres engravidava as duas de prazer. E o que parecia pouco, muito se tornava. O que finito era, se eternizava. E um leve e fugaz beijo na face, sombra rasurada de uma asa amarela de borboleta, se tornava uma certeza, uma presença incrustada nos poros da pele e da memória." "Tantos foram os amores na vida de Luamanda, que sempre um chamava mais um. Aconteceu também a paixão

Dez poemas de Carlos Drummond de Andrade no livro A rosa do povo

Consolo na praia Carlos Drummond de Andrade Vamos, não chores... A infância está perdida. A mocidade está perdida. Mas a vida não se perdeu. O primeiro amor passou. O segundo amor passou. O terceiro amor passou. Mas o coração continua. Perdeste o melhor amigo. Não tentaste qualquer viagem. Não possuis casa, navio, terra. Mas tens um cão. Algumas palavras duras, em voz mansa, te golpearam. Nunca, nunca cicatrizam. Mas, e o humour ? A injustiça não se resolve. À sombra do mundo errado murmuraste um protesto tímido. Mas virão outros. Tudo somado, devias precipitar-te — de vez — nas águas. Estás nu na areia, no vento... Dorme, meu filho. -------- Desfile Carlos Drummond de Andrade O rosto no travesseiro, escuto o tempo fluindo no mais completo silêncio. Como remédio entornado em camisa de doente; como dedo na penugem de braço de namorada; como vento no cabelo, fluindo: fiquei mais moço. Já não tenho cicatriz. Vejo-me noutra cidade. Sem mar nem derivativo, o corpo era bem pequeno para tanta