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Vamos ouvir: Deriva, de Kristoff Silva

Deriva (2013) - Kristoff Silva

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Deriva por Pablo Castro*

Ouvindo o impressionante e improvável novo álbum de Kristoff Silva , craque da raça musical e cancional brasileira. Em contraposição à placidez de Em Pé no Porto, Deriva é mais incisivo, nervoso em alguns momentos, incrivelmente ousado nos arranjos, instrumentação e até mesmo na interpretação. A eletrônica é mais áspera, seca, às vezes distorcida. A sua banda ainda está lá, ainda que mais rarefeita, mas o disco carrega a digital inconfundível do autor até suas últimas consequências. Os caminhos sinuosos se insinuam até o limiar da canção , ou pelo menos da idéia predominante que fazemos dela, num sair e voltar que se alinhavam, em última instância, na voz do cantor. Surpreendente que ele desenterre uma pérola do disco Dois do Legião Urbana, Acrilic on Canvas, justamente uma daquelas canções pouco metrificadas e de forma heterodoxa, mas íntegra pela intenção do texto-letra-carta-desabafo do saudoso Russo. O disco todo é uma prova das infinitas possibilidades ainda por desvelarem-se e do estado de transe que a canção expandida pode suscitar. À Deriva dos pensamentos , quadraturas, formas inconscientes que se realizam na criação de um compositor que leva ao paroxismo o conceito de letra ( Luiz Tatit, ,Mauro Aguiar, Bernardo Maranhão e Makely Ka) e música.

Recomendadíssimo aos arautos do fim-da-canção, sobretudo àqueles que pensam não haver luz no fim do túnel para esse nosso campo tão censurado hoje em dia.

*Pablo Castro é compositor e sociólogo, posui um CD, Anterior,
e em 2003 lançou, com Kristoff Silva e Makely Ka o CD “A Outra Cidade”
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